“PARA NÃO CAIR NA ÁGUA, CONSTRUÍ UMA PONTE SOB OS MEUS PÉS”
AS CARTAS DE FLÁVIA SCHILLING E A ESCRITA DE SI
Palavras-chave:
Cartas, Escrita de si, Estudos de gêneroResumo
Inspirado nos escritos de cárcere de Flávia Schilling, este artigo pretende apresentar uma análise dos conceitos de escrita de si e escrita feminina para pensar o campo da História. Como metodologia de análise, foram abordados os estudos da História da Sensibilidade. Em sua perspectiva epistemológica, este trabalho se embasou em teorias feministas interseccionais, assim como nos estudos de gênero e sexualidade pós-estruturalistas. A partir de uma reflexão acerca do uso de cartas como fonte, o artigo se propõe a discutir como a escrita de Flávia Schilling oferece uma perspectiva de análise histórica para além de uma visão normativa e falogocêntrica. Ao contar de si, a autora estabelece uma relação própria com o tempo e o espaço, imprimindo em seus relatos um modo outro de se relacionar com os eventos históricos e refletir sobre suas experiências pessoais. Como militante do Movimento Tupamaro, Flávia Schilling foi considerada uma figura marginal para o regime militar uruguaio entre os anos 1970 e 1980. Durante oito anos na prisão, ela conviveu com torturas cotidianas e teve sua comunicação com o mundo externo supervisionada e constrangida. Entretanto, Flávia fez desta escassa possibilidade sua principal via de expressão e resistência. Suas cartas somaram dois livros, publicados ao final do ano de 1980, contendo o total de cento e setenta e cinco cartas, das quais três foram analisadas neste artigo.